Vírus...


Com a chegada do inverno, torna-se mais fácil a transmissão de algumas doenças virais. Tendemos a querer ficar em ambientes fechados, e assim como nós, muitas outras pessoas pensam e desejam permanecer da mesma forma, isso facilita o contágio e a transmissão de diversos vírus entre as pessoas provocando assim diversificadas patologias virais.


Praticamente todos os tecidos e órgãos humanos são afectados por alguma infecção viral.




        Os vírus são transmitidos de várias formas:

    - por via aérea: Gripe (Influenza), Rinovirus, Caxumba, Sarampo, Varicela, Rubéola;  
    - pela via fecal-oral: Hepatite A, Rotavirose, Poliomielite;
    - por transmissão directa: verruga (HPV)  
    - pela via sexual: SIDA; Hepatite B, Confiloma Acuminado (HPV), Herpes Genital
    - por via latrogenica: SIDA, Hepatite B, Hepatite C
    - por mordidas de animais: Raiva
    - por picadas de insectos: febre amarela, dengue
    - por partilha de seringas-agulhas por usuários de Drogas: SIDA, Hepatite B, Hepatite C

    - por transmissao oral: Mononucleose Infecciosa, Herpes Labial, Citomegalovírus
    - por via transplacentária: Citomegalovirus, Rubéola Congénita, Hepatite B





“Os vírus são os agentes infecciosos mais pequenos conhecidos e caracterizam-se por um mecanismo de acção muito específico, pois invadem o organismo, introduzem-se nas células do hospedeiro e utilizam os seus elementos metabólicos para se multiplicarem.”



A definição exacta de vírus é muito complexa, visto que, como têm uma estrutura subcelular, são tão rudimentares que não podem ser realmente considerados como organismos vivos.
Os vírus têm aproximadamente um milésimo do tamanho das bactérias, são apenas vistos na microscopia electrónica (com aumento de milhares de vezes). Estes, não têm qualquer actividade metabólica quando fora da célula hospedeira: não conseguem captar nutrientes, nem utilizar energia ou realizar qualquer actividade biossintética.
Obviamente reproduzem-se, mas diferentemente das células, que crescem, duplicam o seu conteúdo para se dividirem em duas células-filhas. Estes replicam-se através de uma estratégia completamente diferente: invadem células, o que causa a dissociação dos componentes da partícula viral, componentes esses interagem com o aparato metabólico da célula hospedeira, subvertendo o metabolismo celular para a produção de mais vírus.
Embora cada vírus seja diferente e apresente características específicas, todos os vírus têm uma estrutura muito simples, pois cada partícula viral é simplesmente formada por um núcleo de ácido núcleico rodeado por uma camada denominada cápside e, por vezes, por uma membrana lipídica.

  • ácido nucléico - conjunto de instruções genéticas, DNA ou RNA, de cadeia simples ou duplos;
  • cápside – cobertura proteica que envolve o DNA ou o RNA para protegê-lo;
  • membrana lipídica - envolve a cobertura de proteína, sendo encontrada apenas em alguns vírus, incluindo o da gripe. Esses tipos de vírus são chamados de vírus encapsulados em oposição aos vírus não encapsulados.

        

               Defesa contra os vírus


O sistema imunológico dos mamíferos dispõe de mecanismos de defesa bem variados:

Barreiras naturais
 Existe uma série de barreiras protectoras no corpo humano que servem para impedir ou dificultar a entrada dos microorganismos patogénicos no mesmo.
Em primeiro lugar, a pele que reveste todo o corpo constitui uma barreira inultrapassável para muitos agentes infecciosos. Para além disso, como se encontra revestida por uma camada Iipidica ligeiramente ácida, proveniente das secreções das glândulas cutâneas, com propriedades anti-sépticas, cria um meio desfavorável para o desenvolvimento de inúmeros microorganismos na superfície do corpo.
As vias respiratórias são igualmente constituídas por um especifico sistema protector, na medida em que se encontram revestidas interiormente por uma camada mucosa, na qual a maioria dos microorganismos que penetram com o ar inspirado fica presa. Para além de ser constituído por substâncias antimicrobianas, este muco é constantemente arrastado em direcção ao exterior pelo movimento de reduzidos cílios das células que revestem a superfície das vias respiratórias.
Os microorganismos que penetram pela via digestiva também têm que enfrentar várias barreiras protectoras. O primeiro obstáculo corresponde à acidez do suco gástrico, que é capaz de destruir inúmeros tipos de microorganismos que chegam ao estômago. As secreções de outras partes do tubo digestivo criam igualmente um meio hostil para muitos microorganismos.
Por último, existe a flora bacteriana intestinal, composta por microorganismos saprófitas inofensivos, que travam a proliferação de outros considerados perigosos.

Imunidade inata

Caso os microorganismos consigam ultrapassar as barreiras iniciais referidas, têm que enfrentar outros mecanismos defensivos inatos, eficazes contra inúmeros tipos de agentes infecciosos.
Em primeiro lugar, existem inúmeras células pertencentes ao sistema imunitário, distribuídas pelo organismo, com uma função especial: detectar agentes estranhos e fagocitá-los, ou seja, capturá-los e digeri-los. Estas células compreendem vários tipos de glóbulos brancos, como os leucócitosneutrófilosmonócitos e, sobretudo, macrófagos, muito eficazes na função de destruir bactérias. Embora existam células deste tipo presentes em todos os tecidos, nomeadamente naqueles que se encontram mais expostos ao contacto com microorganismos, como a pele e os pulmões, existem outras que circulam constantemente pelo sangue e, caso seja necessário, abandonam os vasos sanguíneos para se dirigirem ao sector do organismo invadido. Para além disso, alguns leucócitos têm a capacidade para detectar a invasão de algumas células do próprio organismo por algum vírus, ao distinguirem ligeiras transformações na sua membrana externa, para depois procederem à sua destruição.
Existem outros mecanismos imunitários inatos, como a acção das proteínas séricas, pertencentes ao denominado sistema de complemento. Uma vez que estas proteínas séricas estão em circulação, quando entram em contacto com determinados microorganismos são activadas. Inicia-se, deste modo, uma reacção em cadeia, cuja finalidade é estimular as células imunocompetentes e destruir os agentes patogénicos.



 Imunidade adquirida

Caso os microorganismos ultrapassem as barreiras naturais e todos os mecanismos de imunidade inata, normalmente desencadeiam uma doença infecciosa. Todavia, o organismo elabora, em simultâneo, uma resposta de imunidade adquirida, em que o sistema de defesa identifica o agente nocivo tomando em consideração um ou vários dos seus elementos estruturais próprios, denominados antigénios, e desencadeia uma reacção para o destruir ou, pelo menos, o desactivar.
Esta resposta é da responsabilidade dos glóbulos brancos do tipo linfócitos, dos quais existem vários tipos. Por um lado, produzem uma resposta imunitária celular, na qual os linfócitos T, após identificarem o agente estranho, atacam-no directamente e produzem sinais para que também possam ser atacados por outras células defensivas. Por outro lado, produzem uma resposta imunitária humoral, em que os linfócitos B, informados pelos anteriores sobre as características do agressor, começam a elaborar anticorpos contra os seus antigénios específicos, de modo a desactivá-los ou facilitar a sua destruição por parte de outras células defensivas.

Todo este processo leva um certo tempo, durante o qual o vírus não encontra obstáculos para desenvolver a sua acção patogénica, sendo o período ao longo do qual a infecção se manifesta. Todavia, a partir do momento em que o sistema imunitário se encontra a 100%, normalmente costuma desactivar o vírus e, na maioria dos casos, acaba por eliminá-lo do organismo, o que conduz à cura da infecção. Para além disso, o sistema de defesa fica igualmente em permanente estado de alerta, já que existem algumas células imunitárias, as células de memória, que "memorizam" o vírus e que, em caso de nova invasão, desencadeiam os mecanismos destinados a combatê-lo antes que exista tempo para a produção de uma infecção. Este mecanismo justifica o facto de existirem várias doenças virais, como por exemplo o sarampo, que apenas se manifestam uma vez na vida.



           Prevenção e tratamento de doenças virais 


Devido ao uso da maquinaria das células do hospedeiro, os vírus tornam-se difíceis de se combater. Como os tratamentos quimioterápicos para a infecções virais são limitados, os tratamentos sintomáticos, como descanso, hidratação e analgésicos, são as alternativas mais comuns para reduzir os incómodos causados pela maioria das doenças virais, principalmente infecções respiratórias. Pesquisas realizadas com pessoas infectados por vírus demonstraram que esforços físicos severos, repetitivos e exaustivos prolongaram a infecção e provocaram o retardo do início da resposta imune. 


               Vacinas virais 


As mais eficientes soluções médicas para as doenças virais são, até agora, as vacinas para prevenir as infecções, Elas podem ser produzidas a partir de vírus inactivos ou atenuados, ou a partir de subunidades de proteínas virais. Uma vez introduzidos num indivíduo, os componentes das vacinas são capazes de estimular o organismo a produzir uma resposta imunológica humoral e/ou celular. O indivíduo desenvolve memória imunológica quando é exposto uma ou algumas vezes aos antígeneos presentes na vacina. A vacinação é empregada com o objectivo de prevenir a manifestação de doenças virais futuras. Portanto, as vacinas não são aplicadas com o intuito de curar viroses já instaladas, mas sim para evitar o desenvolvimento da doença. 


             Fármacos antivirais 


Os fármacos antivirais são substâncias utilizadas no tratamento específico contra determinados vírus. Diferentemente do que ocorre nos casos de infecções bacterianas, os antibióticos não são úteis contra infecções virais. O uso abusivo e inadequado de antibióticos, contra infecções virais, tem-se tornado um grave problema de saúde pública por ser uma das causas do recorrente surgimento de bactérias resistentes a múltiplos antibióticos. 

A tabela em baixo apresentada, refere-se a alguns dos fármacos antivirais utilizados nos dias de hoje.



                   Tabela 1: Fármacos anti-virais
Drogas
Nome comercial
Ano
Indicação terapêutica
Metisazona
Marboran
1960
Profilaxia da variola
Idoxuridina
Stoxil, Herplex, Dendrid, Pomada oftálmica,IDU
1962
Ceratite por vírus herpes simplex (HSV)
Amantadina
Symetrel
1966-1976
Profilaxia da influenza A cepa asiática
Todas as cepas de vírus influenza A.
Vidarabina
Vira-A
1976-1978
Ceratite por HSV
Encefalite por HSV; Infecção disseminada e localizada por HSV em neonatos.
Aciclovir
Zovirax
1982
Infecção primária genital por HSV; Infecção mucocutânea por HSV em hospedeiro imunodeprimido.
Trifluridina
Viroptic
?
Ceratite por HSV.
Interferon A
Intron A
?
Hepatite C.
Ribavirin
Viramid
Rebetol
1986
1998
Infecção pelo vírus respiratório sincicial
Hepatite C.
Zidovudina, AZT
Retrovir
1987
SIDA
Ganciclovir
DHPG
1989?
Retinite por CMV em aidéticos.
Didanosina, ddI
Videx
1991
SIDA
Ácido forfono fórmico (FPA)
Foscarnet
1991
Retinite por CMV em aidéticos.
Zalcitabina, ddC
HIVID
1992
SIDA
Stavudina
ZERIT
1994
SIDA
Famciclovir
FAMVIR
1995
VZV
Rimantadina
Flumadine
1995
Influenza
Lamivudina, 3TC
EPIVIR
EPIVIR HBV
1995
1998
SIDA
Hepatite B
Saquinavir
Invirase
1995
SIDA
Cidofovir
Vistide
1995
Retinite por CMV em aidético.
Valaciclovir
Valtrex
1995
HZV em adulto imonocompetente.
Doxorubucin lipossomal
Doxil
1995
Sarcoma de Kaposi em aidético.
Daunorubicin
lipossomal
Daunaxone
1995
Sarcoma de Kaposi em aidético.
Indinavir
Crixivan
1996
SIDA
Ritonavir
Norvir
1996
SIDA
Nevirapina
Viramune
1996
SIDA
Penciclovir
Denavir
1996
Tratamento de herpes labial em adulto
Nelfinavir
Viracept
1997
SIDA
Delavirdine
Rescriptor
1997
SIDA
Paclitaxel
Taxol
1997
Sarcoma de Kaposi em aidético
AZT + 3TC
Combivir
1997
SIDA
Efavirenz
Suativa
1998
SIDA
Abacavir
Ziagen
1998
SIDA



              Reduzir a propagação dos vírus


Os vírus podem existir por um longo período de tempo fora do corpo. O modo pelo qual ele se propaga é específico para cada tipo de vírus.
Para reduzir o risco de propagação ou de entrar em contacto com vírus podemos:
  • Cobrir a boca ou nariz quando espirrar ou tossir;
  • Lavar as mãos frequentemente, especialmente depois de ir á casa de banho ou quando preparar comida;
  • Evitar contacto com fluidos corporais de outras pessoas.

Essas práticas não são perfeitamente seguras, mas podem ajudár a reduzir o risco de infecção viral.